sexta-feira, 22 de julho de 2011

negar

 negar.


                                                                                                                               março de 1997

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Não sois galos, homens é que sois.

          Uma das minhas incursões como empresário rural foi como criador de galinhas de postura. Acreditei, por alguns meses, que neste empreendimento estaria a minha redenção financeira. Se este objetivo primordial não foi atingido, aprendi muito com estas aves, inclusive sobre dinâmica de comportamento social.
         Tínhamos como que 15 galos convivendo com as galinhas, cerca de 300, e começamos a observar que havia um dentre eles que era demasiado violento. Nos atacava sempre que entravamos no galinheiro, o que por vezes era até perigoso. Não nos restou outra alternativa a não ser manda-lo para a panela. O interessante disto é que não se passaram 2 dias até que começássemos a observar que havia outro galo que nos atacava. E a cada galo que eliminávamos um outro começava a cumprir aquele papel de ser o agressivo da turma.
      Conversando com especialistas, não se mostraram minimamente surpreendidos. O estudo do comportamento animal nos mostra exatamente que nestes casos não se trata de um galo que geneticamente tenha códigos que o tornam violentos e os outros não. A maneira como esta comunidade, no caso de galinhas, é organizada, é que gera a necessidade de que um assuma este papel. Será como que um protetor do grupo e terá algumas regalias por isto, como comer mais. Milho ou galinhas.
         Podemos transpor estes conhecimentos para nossa sociedade. Afinal, se em termos de organização individual, segundo o evolucionismo, estamos alguns milhões de anos na frente, em termos de estrutura social eu não me arriscaria a fazer uma comparação. Tenho medo de perder para as galinhas.
        Na década de sessenta foi lançado um livro por um sociólogo francês que se intitulava  “Os dois Brasis”.  Fez muito sucesso e todos nós já ouvimos falar de que vivemos em uma “Belíndia”. O que não podemos é nos enganar com as falsas preocupações de como faremos para que a nossa porção “Índia” chegue a condição de “Bélgica”. Afinal esta possível Bélgica não sobreviveria sem o suporte desta provável Índia. Mais recentemente o mesmo discurso foi globalizado e atualizado com o termo “excluídos”. Teríamos agora uma parcela da população que estaria fora de qualquer possibilidade de integração no processo produtivo. Dentro desta linha de raciocínio, a solução, lógica e cruel, para este problema econômico, seria a eliminação desta camada social. Matando-os ou evitando que se reproduzam, o que gera o mesmo resultado final.
        Da mesma maneira que com os galos, poderíamos conversar com especialistas. Alguns não se mostrariam minimamente surpreendidos. O estudo da nossa estrutura social nos mostra exatamente que nestes casos não se trata de homens que geneticamente tenham códigos que os tornam menos capazes de trabalhar e acumular que os outros. A maneira como esta comunidade, no caso de humanos, é organizada, é que gera a necessidade de que um grupo assuma este papel. Será como que uma reserva estratégica do grupo e terão alguns problemas por isto, como não comer. Milho ou galinhas.
            Entre os galos, para cada dominante que surge há os correspondentes dominados. Da mesma forma que podemos imaginar, em nossa estrutura social, uma correspondência entre a acumulação dos integrados e a presença dos excluídos. Para cada excluído eliminado, e o são aos milhares, todos os dias, novos surgirão como que por milagre, sustentando na base uma estrutura que deles não pode prescindir. Não nos enganemos. Por mais distante que muitos de nossos pares estejam da possibilidade de produção e consumo, a eliminação destes não eliminaria sua necessidade e sua função social. O que é ainda mais cruel do que a solução proposta. É a dura, para alguns, realidade, em função da maneira como elegimos estruturar nossa sociedade.
                                                                                                                                                     abril 1997 

quarta-feira, 20 de julho de 2011

BIBIOGRAFIA

Esta história relata o acontecido entre dois personagens que não se conheciam, não se conhecem, mas se imaginam amantes.
O Rei Poli, depois de se tornar viúvo, se casa novamente com a Rainha Glota. O Rei tinha uma linda filha, que se chamava Rapunzel e era constantemente maltratada por sua madrasta.
Um dia a madrasta, enciumada pela beleza de Rapunzel (que era também conhecida como Rapunzel Poliglota), a deixa encarcerada em um castelo, no alto de uma torre, completamente inacessível.
Passam os anos, quase uma década, e Rapunzel se acostuma a viver na Torre. Achava que tinha tudo o que precisava. Se julgava feliz! Sua única diversão era ouvir a música que vinha da casa de um homem que vivia em uma cabana na floresta, perto do Castelo. Era uma música suave e ritmada, que fazia com que Rapunzel bailasse por horas. Bailava com tal harmonia e sensualidade que os passarinhos pousavam em sua janela para observá-la. E se enamoravam pela beleza do seu ritmo. Eles, os pássaros, pensavam que ela, Rapunzel, era uma Fada.
O que ela não sabia era que o homem tocava para ela. Sim por estas coisas que a ciência não explica e os mortais não compreendem, esse homem era, assim como os passarinhos, apaixonado por ela. E via nela a Fada que transformaria sua vida.
Ele era considerado por todos na Aldeia um selvagem. Vivia isolado e nunca conversava com ninguém. Era tido como mudo e as pessoas não sabiam o que ele fazia tanto tempo caminhando sozinho pela floresta ou trancado na sua cabana.
Uma noite ele não resiste, vai até o pé da Torre e começa a tocar para ela. Ela começa a bailar. Ele se enamora definitivamente ao ver o seu perfil pela janela. Ela se sente seduzida pela música que chega aos seus ouvidos em tom de poesia. Ele sobe até a Torre, ninguém sabe como. Bailam juntos. Se tocam. Ela se pergunta como pode ser ele considerado um selvagem se a ela lhe parece um poeta.
Ele a toca com força, ela pensa: selvagem.
Ele sussurra em seu ouvido e ela pensa: poeta.
Poeta selvagem, selvagem poeta.
Ela sorri com essa imagem e ele se apaixona pelo seu sorriso, pelo seu ritmo, pelo seu humor.
Bailam, conversam, e se tocam por mais de 30 horas. Fazem juras de amor, ainda que tímidas. Se descobrem. Ciclo breve, intenso, surpreendente. A beleza do momento supera uma possível dor futura. Um plano. Ela deveria deixar o cabelo crescer, até o instante que ele conseguisse subir pelas paredes se apoiando em seu cabelo e resgatá-la. Cada um é artífice de seu próprio destino, comentam. Se olham, como que duvidando de sua própria sentença...
Se afastam. Seus destinos assim o exige.
Destino?
Despertam em uma manhã sem sol e fria, com uma chuva suave. Ela na Torre, ele ao pé da Torre. Ninguém sabe como ele desceu. Foi um sonho?
O Selvagem (para ela também poeta) segue como antes. Caminha só e vive trancado em sua cabana. Ela em sua torre. Rapunzel Poliglota.
Ficou a promessa do reencontro. Da bailarina e do selvagem. Da poliglota e do poeta.
Além da promessa, o desejo. Cada um é artífice do próprio destino. Será?
                                                                         
                                                                                                                    abril 1998